segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Ponta Grossa concentra 101 focos de favelização - dcmais.com.br veiculou

Ponta Grossa concentra 101 focos de favelização

Publicado em: 29/12/2013 - 00:00 | Atualizado em: 28/12/2013 - 12:45
Fábio Matavelli
Ana Maria mora com o filho que é deficiente visual e com a filha de 17 anos, grávida de três meses (janela)


Os olhos da dona de casa, Ana Maria dos Santos, enche de lágrimas ao mostrar o armário vazio com apenas meio pacote de arroz. "Nossa ceia de Natal não foi nada fácil. As prateleiras estavam vazias e não tínhamos nada para comer". Ana, que mora em uma casa com apenas um cômodo, na Vila Palmeirinha, com a filha de 17 anos que está grávida de três meses e com o filho Leandro dos Santos, 25 anos, deficiente visual, espera por uma casa melhor e que não ofereça riscos para os filhos. Além da família de Ana, o sonho da moradia própria é o mesmo de outras 6,5 mil pessoas que moram em locais vulneráveis na cidade. Ao todo, são 101 focos de favela concentrados em Ponta Grossa.
A casa da família da Ana fica próximo da linha do trem e já prejudicou os moradores por conta de inundações em dias de chuva forte. "Quando chove não podemos sair de dentro de casa, pois, a nossa área fica alagada. Já perdemos móveis e temos medo do momento em que o trem passa por perto. A nossa casa treme e a qualquer momento poderá vir abaixo", conta Ana Maria.
Segundo o presidente da Companhia Ponta-grossense de Habitação (Prolar), Dino Schrutt, a justificativa para o grande número de pessoas que ainda vivem em áreas de risco, como a família da Ana, se deve ao fato de que muitas delas são retiradas desses locais e acabam voltando a morar no mesmo lugar. "Em pontos específicos em que as famílias são retiradas em etapas, na maioria das vezes aqueles que saem, vendem o espaço onde estão para outros, de um dia para o outro, e assim, quando a estrutura do município chega ao local poucos dias depois para revitalização da área, encontra um novo grupo de famílias, diferentes daquelas anteriormente cadastradas", explica.
De acordo com Luiz Alexandre Gonçalves Cunha, professor de pós-graduação em Geografia e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o número de favelas na cidade é considerado preocupante. "Ponta Grossa é uma das cidades que mais concentra um percentual alto de favelas. Ela fica atrás somente de Curitiba e Foz do Iguaçu", conta.
Para o especialista, o programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, prevê recursos para tentar minimizar essa questão das favelas. "Porém, o problema é tão grande que talvez soluções como essas não consigam atingir a maior parte desse público que vive em favelas. Seria necessário que a Prefeitura elaborasse um programa com o objetivo de envolver ações efetivas de recursos públicos para atacar esse problema grave na cidade", afirma.
"Em contraponto, muitas moradias estão localizadas em locais afastados da infraestrutura de Ponta Grossa. Esse é outro grande problema que precisa ser solucionado para que essas pessoas não fiquem afastadas de postos de saúde, escolas e outros locais importantes. É preciso a criação de uma política para organizar os espaços urbanos da cidade", diz o professor.
Casa própria
Leandro, o filho de Ana Maria, ficou cego aos 14 anos. Ele foi vítima de um assalto e levou um tiro na nuca. O rapaz conta que já tentou entrar na fila da Prolar, mas foi impedido, pois já possui um cadastro. A justificativa, segundo ele, é de que após ter se separado da esposa, a moradia popular ficou para a ex-mulher. "Quando nos separamos a casa ficou para ela e então tentei novamente entrar na fila para conseguirmos outra casa, porém, disseram que nós não temos mais o direito e nós não temos condições de pagar um aluguel, pois só recebo um salário mínimo para sustentar nossa casa e pagar R$ 200 de pensão", afirma.
Com relação ao direito por uma segunda moradia para Leandro, Dino Schrutt, comenta que a família pode ter direito a uma nova casa, somente se a separação for comprovada no papel. "Além disso, ele precisa deixar de ser mutuário desta moradia que está com a ex-esposa e então ele poderá entrar na fila novamente", alega.

Nenhum comentário:

Postar um comentário