quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Governo do Paraná cobra economia, mas mantém pequenos desperdícios - gazetadopovo.com.br


Antônio More/Gazeta do Povo
Antônio More/Gazeta do Povo / Palácio das Araucárias com luzes acesas numa noite de sábado, dia sem expedientePalácio das Araucárias com luzes acesas numa noite de sábado, dia sem expedientecrise financeira

Governo do Paraná cobra economia, mas mantém pequenos desperdícios

Luzes acesas à noite, refeições para convidados e despesas com solenidades são exemplos de gastos questionáveis
Publicado em 19/02/2015 |
 
A grave crise financeira por que passa o governo do Paraná – que levou o estado a atrasar pagamentos, aumentar impostos em dezembro e a propor o pacotaço de medidas de austeridade neste mês – não foi suficiente para que a administração estadual passasse a controlar alguns gastos públicos com mais rigor.
Só com alimentos e bebidas, por exemplo, a Casa Civil, que abastece o cerimonial do Palácio Iguaçu, gastou em dezembro R$ 82,8 mil – 37% do gasto anual com gêneros alimentícios, que foi de R$ 222 mil em 2014. No último mês do ano passado, o governo já tinha ciência da gravidade da crise financeira.

Cobrança

Governo deveria dar o exemplo de corte de gastos, diz líder da oposição
Líder da bancada de oposição na Assembleia Legislativa do Paraná, Tadeu Veneri (PT) diz que não há como convencer os servidores públicos e a própria população da necessidade do corte de despesas se o “andar de cima” não der o exemplo. “[Agindo assim] as justificativas [para o corte] deixam de ser plausíveis”, diz o petista, ao comentar o levantamento da Gazeta do Povo sobre os pequenos desperdícios do governo. “Não que esses gastos não sejam feitos por todos os governos. Mas, por exemplo, comprar comendas a R$ 20 mil?”, questiona. “Não é [um gasto] significativo. Mas as pessoas ficam mais aborrecidas.” Ele reconhece que muitos dos gastos levantados pela reportagem são necessários para a condução do governo. Alguns, nem chegam a ter valor significativo em face ao orçamento do estado. “Mas é uma questão simbólica”, avalia o parlamentar.

Também em dezembro, a Casa Civil publicou edital no valor de R$ 198 mil para a montagem do palanque e estrutura de apoio para a posse do segundo mandato de Richa. Após a má repercussão, um novo edital foi publicado, com limite de R$ 62,8 mil. Pouco antes, em novembro, o órgão havia homologado licitação no valor de R$ 22,3 mil para a compra de comendas para a Ordem Estadual do Pinheiro, honraria concedida pelo governo a personalidades do estado.
A Secretaria de Segurança Pública, que enfrentou sérios problemas de caixa no ano passado, também não poupou gastos com solenidades. No portal Gestão do Dinheiro Público do governo estadual, o órgão reconhece dívidas de R$ 53,4 mil com eventos.
A reportagem da Gazeta do Povo também flagrou, na noite do último dia 7, um sábado, luzes acesas em dois prédios públicos do governo: os palácios Iguaçu e das Araucárias. Na última sexta-feira, 13 de fevereiro, a reportagem constatou novamente que quase todos os andares do Palácio Iguaçu permaneciam com as luzes acesas às 23h .
No mês passado o governador Beto Richa também publicou no Diário Oficial edital de licitação para alugar oito carros para ele, a vice-governadora Cida Borghetti (Pros) e para seus gabinetes. O limite de gastos é de R$ 1,1 milhão por um ano de contrato, renovável ao fim do período. Segundo a Casa Civil, os carros substituirão os atuais. Dois deles são blindados.
Outro lado
A Gazeta do Povo procurou o governo para comentar os gastos. A respeito das despesas com gêneros alimentícios, a Casa Civil alegou que a concentração de gastos em dezembro se deve a pagamentos de compras realizadas nos meses anteriores e à estocagem para janeiro e fevereiro, quando ainda não haveria recursos liberados no orçamento. Ainda de acordo com a Casa Civil, o governador recebe no restaurante do Palácio Iguaçu de 20 a 30 pessoas por dia e o gasto médio por refeição é de R$ 27.
Já a Secretaria de Segurança informou que a dívida reconhecida de solenidades se refere ao lançamento das Unidades Paraná Seguro (UPSs), módulos policiais.
A respeito das luzes acesas, a Casa Civil informou que a área externa do Palácio Iguaçu permanece iluminada por questões de segurança, inclusive com a permanência de policiais militares. Mas a reportagem verificou que ao menos uma sala permanecia com luzes acesas no final de semana.
Já no Palácio das Araucárias, além de algumas salas iluminadas, o vão central dos sete andares do prédio permanecia claro. No espaço ficam as escadarias que dão acesso aos andares superiores. Em nota, a Secretaria Estadual de Administração, um dos órgãos que funcionam no local, justificou que as fotografias foram tiradas justamente em uma das “várias vezes” em que o vigilante noturno sobe até o sétimo andar. “Conforme vai subindo, ele acende as luzes do corredor que fica no vão central, entre os dois edifícios onde estão instaladas as salas das secretarias. Feita a vistoria, ele retorna apagando as luzes”, diz a nota.

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