A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento mantém a estimativa de
colheita de 38 milhões de toneladas de grãos na safra 2014/15, mas a
continuidade das chuvas prejudicou a qualidade e a produção. O Paraná
também está em alerta diante do atual excesso de chuvas que pode
prejudicar o desempenho da safra 2015/16, que está sendo plantada.
Para a safra nova (15/16), o Departamento de Economia Rural (Deral)
mantém a estimativa inicial, que aponta para um volume de 22,2 milhões
de toneladas de grãos. A informação consta no relatório referente a
novembro, divulgado nesta sexta-feira (27).
Para o chefe da conjuntura do Deral, Marcelo Garrido, as chuvas
dificultam o plantio da safra nova e impedem que os produtores entrem
nas lavouras para aplicar defensivos necessários para o controle de
doenças que aparecem com o excesso de umidade.
Segundo Garrido, também não estão descartados para essa safra
possíveis aumentos no custo de produção por causa da necessidade de
elevar as aplicações.
Soja Para a soja, o principal grão plantado
nesta época do ano, a previsão de safra se mantém em 18 milhões de
toneladas que, se for confirmada, será a maior da história.
A área é 3% maior em relação à do ano passado, com 91% dos 5,2
milhões de hectares previstos já plantados. Nas três últimas safras, o
plantio nessa época do ano já atingia 94% do previsto. Isso mostra a
dificuldade do produtor em manter o ritmo.
“Mas dá para recuperar. Não podemos falar em atraso do plantio, mas
sim em frustração da expectativa do produtor, que esperava encerrar com
antecedência essa atividade”, diz Garrido.
O plantio da soja já terminou nas regiões Norte e Oeste, sendo que em
Cornélio Procópio houve problemas de erosão provocada pelas chuvas.
Agora, a preocupação dos técnicos está na continuidade de chuvas no
Centro Sul, em União da Vitória, Curitiba e Guarapuava, onde os
produtores estão com dificuldade de encerrar o plantio.
A comercialização antecipada da soja avançou de 31% no mês passado, para 33% esse mês.
Milho O plantio de milho da safra de verão
praticamente está encerrado, com 99% da área prevista de 438.409
hectares de lavouras concluídas. A área é 19% menor em relação ao ano
passado e é a menor já plantada nesse período do ano. A previsão de
safra é de 3,8 milhões de toneladas - 19% a menos que na safra anterior.
O excesso de chuvas não prejudicou o milho, que teve plantio
concluído no tempo previsto. O que preocupa, assim como a soja, é o
excesso de umidade, que pode prejudicar a qualidade dos grãos e provocar
doenças, que elevam os custos de produção.
Feijão
O feijão das águas é a primeira cultura a
ser colhida da safra de verão. Atualmente, 4% da área prevista de
181.569 hectares estão colhidos. A área da safra 2015/16 é 6% inferior
em relação ao ano passado, quando foram plantados 192.711 hectares.
Segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador, o
feijão das águas teve desenvolvimento afetado. Primeiro, por causa da
falta de chuvas em agosto e setembro. Duas situações de intempéries
ocorreram de forma simultânea em Ponta Grossa, Francisco Beltrão e
Guarapuava, regiões de pequenos produtores, onde a produtividade está
abaixo do esperado. “O clima não ajudou no plantio e não está ajudando
agora na colheita. A qualidade dos grãos não está boa”, diz o técnico.
Salvador destaca ainda que os produtores de feijão estão com
dificuldade de fazer o controle fitossanitário das doenças, o que vai
prejudicar a qualidade. Isso significa que o feijão vai chegar ao
mercado na quantidade esperada, mas com menores preços para os
produtores.
O efeito da desvalorização vai ocorrer nos próximos meses. Por
enquanto, os preços pagos ao produtor estão satisfatórios, em torno de
R$ 133,05 a saca para o feijão de cor e de R$ 104,09 para o feijão
preto.
Trigo e cevada
Para os grãos de inverno,
principalmente trigo e cevada, que sofrem os efeitos do excesso de
chuvas durante a colheita, já é possível dimensionar prejuízos.
O trigo da safra 14/15 apresenta uma quebra de 15% em relação ao
potencial da cultura. A estimativa inicial apontava para colheita de
quatro milhões de toneladas, mas foi reduzida para 3,4 milhões de
toneladas, uma perda de 600 mil toneladas.
Segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho, a safra
de trigo deste ano não apresenta uma boa qualidade, o que vem mantendo a
sustentação dos preços no mercado para o grão de padrão mais elevado,
colhidos nas regiões Norte e Oeste. Atualmente, o preço do trigo está em
R$ 38,00 a saca, considerado satisfatório ao produtor. Mas esse preço é
pago somente aos grãos de qualidade.
Por outro lado, não dá para ter essa expectativa em relação às
lavouras plantadas na região Centro-Sul, que sofre com o excesso de
chuvas. “Se não houver fluidez no escoamento da safra, como nos últimos
meses, haverá redução de preços aos produtores para o trigo colhido
nessas regiões”, alerta o técnico.
O mesmo quadro para o trigo se reflete na cultura da cevada, outro
grão de inverno. “Temporais ocorridos nas regiões de plantio,
principalmente em Guarapuava, e agora o excesso de chuvas são danosos
para a cevada”, diz o economista do Deral, Methódio Groxko.
O departamento já constatou redução de 33% na safra esperada. A
expectativa inicial apontava para um volume de 198 mil toneladas e a
colheita deverá ser de 133 mil toneladas. E para a safra restante, o
problema será a qualidade. “Se não houver padrão aceitável para a
indústria cervejeira, que é a consumidora do grão, ele será destinado à
ração animal. Com isso, o Brasil vai elevar a importação de cevada e
malte para suprir a demanda da indústria”, prevê Groxko.