Antes mesmo do encerramento da sessão especial na Câmara de Vereadores, que deveria ter votado o parecer da Comissão Parlamentar Processante que sugeria a cassação de seu mandato, a vereadora Ana Maria Branco de Holleben, que renunciou ao cargo, já se encontrava nos estúdios da TV Guará (Rede Massa), se aprontando para, em seguida, conceder uma entrevista ao apresentador Jocelito Canto. Lá, ela falou sobre o caso, dizendo-se tranqüila após o episódio que durou oito meses. Ela riu, se emocionou, chorou, fez agradecimentos, mas não relatou o que ocorreu o dia 1º de janeiro deste ano, depois que tomou posse e não compareceu ao Legislativo para participar das votações que definiram a atual composição da Mesa Executiva, no episódio que ficou conhecido nacionalmente como de “falso sequestro”.
LegadoAo ser perguntada sobre as razões de ter renunciado ao mandato, Ana começou falando de seu mandato e do legado que diz ter deixado com sua atuação política, desde sua carreira como professora, nas lutas em defesa da escola pública, obtendo conquistas como o vale-transporte para servidores da rede estadual de Educação, exemplificou. Também e relação à Cultura de Ponta Grossa, na condição de presidente da Fundação Cultural, ao tempo do prefeito Péricles de Mello.
Falou também do seu trabalho na Câmara Municipal, destacando lei que aprovou em favor dos autistas, que. Garante, gerou avanços o atendimento. “Sempre tive o hábito de trabalhar com garra com gana. Esqueci de mim, passei a não existir mais. Foi um desgaste muito forte, emocionalmente fiquei muito desgastada e tive sérios problemas”, contou. Afirmando seu desejo de ter feito mais, a ex-petista reclamou que, neste ano, pelos acontecimentos, ficou impedida de realizar muitas coisas.
Criticou que vereadores quiseram “fazer escada, querendo destruir. Não é assim que a gente cresce, não se destrói as pessoas para se construir. Eles estão trabalhando no sentido da desconstrução do meu trabalho. E eu trabalho pela construção”, pronunciou a agora ex-vereadora. Ainda sobre sua atuação a Câmara, Ana Maria garantiu não ter pedido ou negociado votos para seus projetos, não ter feito nem aceitado “conchavos”.
Aliviada“Aliviada”, foi como a ex-vereadora se disse após o encerramento do processo e sua renúncia ao mandato. “Não tenho essa habilidade para conchavos de gabinetes, o toma-lá-dá-cá, oferecimento de cargos, eu não sei fazer isso. E, neste tempo todo (do processo), não fui atrás de ninguém. O que me faz bem” prosseguiu, “é encontrar as pessoas eu vêm me abraçar, me agradecer pelo que fiz”. Revelou ter recebido conselhos para oferecer “alguma coisa”, como cargos em gabinete, para se livrar do processo, o que não aceitou.
“Acho muito bonito gente que vai à tribuna da Câmara e é um santo. Mas, nós sabemos...”, apontou Ana Maria, sem citar nomes ou fatos que pudessem ligar o comentário ao tema que estava tratando, ou seja, conchavos.
Ela garantiu que, mesmo sem mandato, estará trabalhando pela comunidade, como fez, por exemplo, em favor das donas de casa, na busca da aposentadoria para a classe, tendo acompanhado comitivas a Brasília por esse objetivo. Depois de citar outras de suas iniciativas, Ana desafiou: “Quero que apontem alguém que passou pela Câmara e deixou um legado como eu deixei. Que venha aqui e diga”.
E deixou um conselho para “alguns vereadores”: “Quando se tem um cargo, é preciso continuar com a simplicidade, com o mesmo modo de viver, não pode deixar que o cargo suba à cabeça não se poder perder as raízes. Querer comprar carro novo, etc., quando acontece alguma coisa o baque pode ser grande”. Ela afirma que não sofre esse “baque”. E declarou que 70% do dinheiro que recebia da Câmara usou para pagar dívidas da campanha eleitoral, e mais 20% para a população, porque, segundo ela, as pessoas, quando não têm, recorrem aos vereadores, sendo que ela não sabe dizer não. E observou que recebe aposentadoria como professora para sua sobrevivência financeira.
Não são santosAna Maria voltou a assegurar que não faltou com o decoro parlamentar, argumento utilizado para a proposta de sua cassação. “Tem atitudes que configuram muito mais quebra de decoro do que a minha”, comentou, voltando a dizer que foi vítima de séria depressão, o que, falou, pode ser comprovado por prontuário médico.
A reação das pessoas com o caso, a ex-vereadora justifica “pela construção” dos fatos. “Penso que, infelizmente, as pessoas não estão preparadas e estão aceitando muito mais uma falcatrua, um desvio. Parece que é um hábito que já vem lá dos tempos dos portugueses. Tantas coisas acontecem e não vimos uma reação assim. Gente que tira dinheiro de hospital, de escola...”.
Voltando a falar de sua renúncia ao mandato, Ana citou novamente suas condições de saúde. “Quando a gente não está bem, não pode ajudar as pessoas, e eu não estou bem”, disse, para esclarecer que vai cuidar da saúde. “Tem que ter muita coragem para aguentar o que eu agüentei, ficar ouvindo pessoas que não têm um pingo de dignidade, vereadores, falando mal de mim, que vão á tribuna, se fazem, mas não são santos”.
Cobrada a citar nomes, Ana disse: “Quem sabe, um dia”. Dada uma insistência, falou que “depois, não agora”. A ex-vereadora deixou claro que sai da Câmara Municipal magoada com algumas pessoas, que não quis citar, mas que não teriam, ao seu ver o direito de criticá-la ou condená-la. E criticou, também, “alguns setores da imprensa” que a teriam “escrachado” durante o processo todo.
EleiçãoSobre o processo para a eleição da Mesa Executiva, Ana Maria de Holleben fez alguns questionamentos, como o caso de vereadores que “erraram” o voto, ou mudaram de posição entre um turno e outro. “Isso ninguém questiona”, provocou. Considerando que é normal que alguém peça para mudar o voto (ela havia declarado publicamente seu voto ao candidato Paulo Cenoura para presidente) Ana afirmou que jamais alguém lhe ofereceu dinheiro ou qualquer outro benefício. Lembrou ter viajado no dia 26 de dezembro ao Rio de Janeiro para o casamento de sua filha, mas, retornado no dia 30 para cumprir com suas obrigações para com o Legislativo.
AgradecimentosAna Maria fez uma série de agradecimentos e elogios, a seus advogados, médicos, assessores e familiares. Foi quando se emocionou e chegou às lágrimas. Entretanto, não incluiu nessa lista o nome de seu primo, o deputado e ex-prefeito Péricles de Holleben Mello PT, que, pelo menos no início do processo, esteve ao seu lado, quando reapareceu em um hospital, e quando esteve presa na delegacia e, depois, no posto do Corpo de Bombeiros, na Nova Rússia.
Disse que teve algumas decepções, mas das quais não quis falar preferindo os agradecimentos.
Espetáculo e palhaçoMas, voltou a fazer referência a vereadores, quando ironizou: “Deve ter vereador muito chateado porque não pode fazer espetáculo, hoje. “O que você acha que iria acontecer lá (na Câmara)”, foi perguntado à ex-vereadora, que respondeu: “Um circo”.
Jocelito canto indagou à Ana Maria quem seria o palhaço desse circo: E ela disse que seria “o público, que está sendo induzido igual porco indo para o matadouro. Gente que nem sabe o porquê. Esse é o palhaço: o público”.
Depois, procurou justificar o que disse. “O circo foi armado e lá estavam os artistas, querendo falar aquilo que não tinham o direito de dizer. E alguns xingando e outros aplaudindo. “Esses que eu digo, que são levados lá, muitas vezes sem saber, outros por interesse, gente da ala do partido, que vai assumir, e que postou horrores no Facebook. Essas pessoas fazem outras de palhaços, é gente que os próprios vereadores levam e que não sabem porque estão lá”.
PTSobre seu ex-partido, o PT, que a expulsou, Ana Maria de Holleben contou que já não andava muito satisfeita com a agremiação, “porque o partido que eu criei, ao qual me joguei com tudo, não é mais o mesmo”. Também que não se sente como se tivesse perdido alguma coisa com sua expulsão, até porque já tinha “algumas brigas, algumas encrencas”.
Quando ao seu futuro político, Ana comentou que todos vivem politicamente, mesmo fora de mandato ou filiação partidária. E assegurou que vai continuar trabalhando, porque entende que não pode abandonar as causas que abraçou.