Família acusa médica e hospital por morte de mulher
Publicado em: 29/09/2013 - 00:00 | Atualizado em: 28/09/2013 - 12:40
Marco Favero |
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Emerson Meier com a foto da esposa, Amanda Hatzlhffer Meier, e do filho do casal |
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar a morte da psicóloga Amanda Hatzlhffer Meier, 30 anos, ocorrida em julho, em Ponta Grossa. Segundo a família, a mulher foi vítima de erro médico.
Amanda entrou em óbito 62 horas depois de dar à luz. O parto aconteceu no Hospital Evangélico, por meio de cesariana, e ela morreu no Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais. O caso está tramitando no 3º Distrito Policial. De acordo com a família, a psicóloga teve o intestino perfurado durante a cesárea, fato que teria sido constatado por três médicos que a atenderam depois no Hospital Universitário.
O esposo de Amanda, o instrutor Emerson Meier, disse que ela teve uma gestação tranquila e fez as consultas de pré-natal numa unidade de saúde da Vila São José regularmente. Quando o casal descobriu a gravidez morava em São Paulo e decidiu se mudar para Ponta Grossa em fevereiro.
Ao completar 41 semanas de gestação, Amanda procurou o Hospital Evangélico. Ela queria parto normal e foi internada às 8 horas do dia 20 de julho. “Ela recebeu medicamentos para estimular as contrações, pois estava com pouca dilatação”, contou Emerson. Como não teve resultado, Amanda e a médica que estava de plantão, Scilla Correia Lima da Silva, entraram num acordo para fazer a cesariana. Por volta de 18 horas, a gestante foi encaminhada ao centro cirúrgico e passou pelo procedimento. O parto foi acompanhado pela sobrinha dela, Evelyne Mello Teixeira. O bebê, que recebeu o nome de Vitor, nasceu saudável.
De acordo com Emerson, quando Amanda chegou ao quarto, passou a se queixar de dores abdominais. No entanto, segundo ele, os profissionais que passaram pelo quarto diziam apenas que eram dores normais e não repassaram medicação, nem solicitaram exames. “No domingo (21), nenhum médico passou, só enfermeiras. O abdômen dela estava bastante inchado e ela passou a ter tonturas, falta de ar e perda de apetite. Também estava pálida”, relatou Evelyne.
Mesmo nestas condições, disseram os familiares, Amanda teria recebido alta no início da tarde de segunda-feira (22), mas ela teria se recusado a deixar o hospital. “Às 17 horas, um médico passou para vê-la, pediu exames e constatou a presença de pus dentro do abdômen”, contou o advogado contratado pela família, Leandro Ferreira do Amaral.
Então, de acordo com a família, funcionários tentaram transferir a paciente para a Santa Casa de Misericórdia, mas a médica Scilla teria ido ao Hospital Evangélico para fazer uma laparotomia exploratória (abertura do abdômen). “Mesmo sabendo do risco da paciente e das condições precárias do hospital para a realização da cirurgia, a médica optou por realizar o procedimento no Evangélico”, afirmou Leandro, acrescentando que a cirurgia aconteceu na noite de segunda-feira. Durante a operação, segundo a família, Amanda teve uma parada cardiorrespiratória e teve de ser reanimada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Nesse momento, ela teria tido uma costela quebrada.
Com o agravamento da situação, a psicóloga foi transferida para o HU, onde deu entrada no início da madrugada de terça-feira (23).
Ela ficou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e morreu às 8 horas. “Três médicos que estavam no Hospital Regional a avaliaram e constataram perfuração de jejuno, que é a parte superior do intestino”, disse Leandro. Segundo o advogado, o atestado de óbito aponta que Amanda morreu por infecção generalizada.
Obstetra pode ser indiciada por homicídio culposo
O advogado Leandro Ferreira do Amaral diz que a médica Scilla Correia Lima da Silva e o Hospital Evangélico deverão ser processados pelo crime de homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Além disso, o advogado ingressou na Justiça com ação para reparação de danos materiais e morais para o esposo de Amanda Hatzlhffer Meier, Emerson Meier, e o filho do casal. Também já registrou queixa junto ao Conselho Regional de Medicina (CRM), que deverá abrir sindicância para apurar o caso.
“Erros médicos acontecem aos montes e não devem ficar impunes. O problema é que de todas as sindicâncias que eu verifiquei, nenhuma terminou com a cassação do profissional, por isso, as pessoas não procuram seus direitos porque a classe médica é muito unida”, afirma Leandro.
A família escreveu uma carta para ser anexada ao processo. Nela, os parentes dizem que a morte de Amanda destruiu a família. “Qualquer atitude tomada não diminuirá a dor e a perda que a médica [Scilla] e o hospital [Evangélico] ocasionaram. É um filho que ficou órfão de mãe”, diz o texto.
Emerson e Amanda estavam juntos há quase dez anos e esperavam pelo primeiro filho. “Ela tinha dificuldades para engravidar e já havíamos desistido, foi quando veio a notícia. Foi uma festa na família toda”, recorda o marido, emendando que a esposa estava muito ansiosa para conhecer o rostinho de Vitor.
Agora, ele conta com a ajuda das irmãs para cuidar do bebê. “Hoje ele é minha única razão de viver”. (E.S.)
“Possibilidade nula”, diz Scilla sobre perfuração do intestino
A médica Scilla Correia Lima da Silva reconhece que Amanda Hatzlhffer Meier teve o intestino perfurado, mas nega que isso tenha ocorrido durante a cesariana. “No caso dessa paciente, a possibilidade é nula”, afirmou, em entrevista concedida ao DC no Hospital Evangélico. “Eu tiro o útero e suturo por fora. Não tem contato nenhum com o intestino”, disse. Ainda de acordo com ela, a perfuração deve ter ocorrido durante a reanimação da paciente quando teve a parada cardiorrespiratória. “E quando tem perfuração intestinal, em 12 horas o paciente entra em quadro complicado. No domingo, ela já teria começado a vomitar e a ter febre, o que não aconteceu”, explicou.
Scilla lembra que Amanda procurou o hospital na sexta-feira (19) e foi orientada a voltar no sábado (20). A médica sugeriu que o parto fosse de cesariana, mas a paciente insistiu que queria o parto normal. “Como ela não teve a dilatação necessária, fizemos a cesárea, que correu superbem, durou de 15 a 20 minutos”. O plantão de Scilla terminou no domingo de manhã. “Eu cuidei dela as 24 horas de plantão”.
Na segunda-feira, Scilla voltou ao hospital porque faz parte de seu trabalho visitar as mães todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, mas ela não estava de plantão. “Eu falei com a Amanda e ela disse que sentia tontura quando se levantava, mas não tinha febre, se alimentou e não tinha sangramento. Escutei o intestino e havia ruídos normais”, disse. Mesmo assim, a médica pediu a realização de um hemograma, exame que, segundo Scilla, não tinham sido feitos no final da gestação. “Não posso dizer se ela tinha uma infecção anterior”.
Nesse período, Amanda recebeu medicamentos para gases porque o intestino fica distendido após a cesariana. Scilla garante ainda que a médica que estava de plantão passou duas vezes, na segunda-feira, para ver a paciente.
À noite, outro médico examinou Amanda e diagnosticou que ela pudesse estar com o intestino parado ou, então, com as alças do órgão dobradas. Foi então que se decidiu fazer a laparotomia, procedimento realizado por Scilla com ajuda de outros médicos. “Abrimos a barriga dela e vimos só líquido solto. Ela não tinha hemorragia”.
Scilla disse que não tinha porque esperar mais para realizar a laparotomia e, por isso, preferiu fazê-la no Hospital Evangélico. Ela garante que a sala cirúrgica tinha condições para realização desse procedimento.
Sobre a causa da propagação do pus no abdômen de Amanda, Scilla argumenta que isso pode ter acontecido por causa de intestino preguiçoso. “E ficar muito tempo deitada após a cirurgia pode gerar esse problema”. Além disso, comentou ainda que 30% das mulheres submetidas à cesariana podem ter infecção, uma das hipóteses para a complicação do estado de saúde da psicóloga.
A médica assegura que tentou salvar a vida de Amanda. “O maior julgamento é a nossa consciência e Deus. Eu estou tranquila porque fiz o meu melhor”.
O diretor clínico do Hospital Evangélico, Gilmar Nascimento, preferiu não se pronunciar sobre o caso. Ele apenas salientou que ainda não recebeu nenhum documento oficial acerca da investigação. (E.S.)
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