MATHEUS MAGENTA
EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os cofres públicos do país deverão bancar a realização de dois desfiles na França.EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Graças a uma intervenção da ministra da Cultura, Marta Suplicy, o estilista paulistano Pedro Lourenço, 23, poderá captar R$ 2,8 milhões via Lei Rouanet para mostrar suas criações na semana de moda de Paris em outubro e em março de 2014. A lei é um mecanismo de fomento à cultura por meio de isenção tributária.
Filho dos estilistas Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço, Pedro Lourenço assinou sua primeira coleção aos 12 anos de idade. O estilista já havia participado da semana de moda de Paris em 2010, quando apresentou uma coleção da grife que leva seu nome.
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A iniciativa de dar um empurrão na moda brasileira via renúncia fiscal é polêmica. Tanto que esse plano vinha sendo discutido em Brasília desde junho. E, mesmo descrito como "mostra" de "artefatos artísticos" no texto ao governo, o projeto não passou na avaliação da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic), que decide quem pode captar via Lei Rouanet.
Charles Platiau - 1ªº.out.12/Reuters | ||
Desfile de Pedro Lourenço apresentado em Paris em 2012 |
Sete conselheiros votaram contra o projeto e sete se abstiveram. No dia 12, a empresa que propôs o incentivo aos desfiles recorreu da decisão. Dois dias depois, a ministra reverteu a decisão da comissão e aprovou o projeto.
"A quem interessa esse projeto? Ao estilista. Por que colocar recursos públicos? O usufruto desse recurso vai ficar restrito a essa empresa", disse o secretário de Cultura de Alagoas, Osvaldo Viégas, ouvinte presente à reunião.
MAIS INOVADOR
"No meu desfile, as pessoas terão acesso à cultura brasileira por meio de uma moda surpreendente, trazendo ainda a arquitetura jovem do país para criar um espaço diferente e vão conhecer o que há de mais inovador nestes setores", disse em seu favor Pedro Lourenço -que usou Niemeyer como referência em coleção recente, daí a menção à arquitetura.
A medida da ministra, que seria publicada hoje no "Diário Oficial", desagradou membros da Cnic. Dois deles, ouvidos sob a condição de anonimato, disseram que ela não deveria ter passado por cima de decisão coletiva.
Já Carlos Trevi, do Santander Cultural e membro da comissão, não se disse surpreso: "É prerrogativa da ministra. E o projeto é bem formatado, redondo, sem problema", afirmou ele, que se absteve de votar por "questão técnica", segundo disse.
A empresária Adriana Semola, que analisa projetos ligados à moda para a Cnic, faz coro: "A ministra está protegida legalmente e a aprovação vai beneficiar toda a cadeia da moda". No entanto, Semola afirma que muitos projetos de moda mais baratos e "tão importantes para a cultura quanto esse de Pedro" não conseguem captar recursos.
Paulo Vainer/Divulgação | ||
Look de estilista Pedro Lourenço apresentado em Paris, na última semana de moda |
Marta Suplicy não quis comentar as críticas. Em nota, justificou sua decisão citando o "soft power", conceito que propõe fortalecer a imagem do país no exterior a partir de bens imateriais: "O Brasil luta há muito tempo para se introduzir e ter uma imagem forte na moda internacional. Essa oportunidade tem como consequência o incremento das confecções e gera empregos. E é um extraordinário 'soft power' no imaginário de um Brasil glamouroso e atraente".
Para o estilista Cassio Bomfim, ex-membro do Colegiado Setorial de Moda do ministério, o governo "não deveria apoiar projetos relacionados ao mercado de moda e não à cultura".
A empresa que apresentou o projeto dos desfiles de Pedro Lourenço é de Disney Rezende, produtora que atua como consultora do ministério no setor de moda. Segundo ela, não há conflito de interesse. "Não há problema algum nisso. Qualquer um pode propor. A lei garante desenvolvimento cultural considerando as diferentes linguagens artísticas", disse.
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