Há 5,4 vezes mais pretendentes do que crianças aptas à adoção, aponta CNJ
Bárbara Paludeti
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Há 5.426 crianças ou adolescentes esperando uma família, de acordo com dados do CNJ
Neste sábado (25), comemora-se o Dia Nacional da Adoção. Se por um lado há que se comemorar a existência de uma ferramenta como o CNA, lançado em 29 de abril de 2008 com objetivo de agilizar os processos de adoção por meio do mapeamento de informações unificadas, por outro, em cinco anos, foram adotados apenas 1.987 crianças ou adolescentes.
Ato de amor
Fiz vários tratamentos, gastei dinheiro e tomei muito hormônio, tive um problema sério no útero. Hoje, estou realizada e se soubesse que era tão maravilhoso adotar, não teria feito fertilização e passado por tudo que passeiSó no Estado de São Paulo, em 2012, foram 3.535 adoções processadas --cada processo pode ter mais de uma criança envolvida. Em 2011, foram 3.450.
O cadastro consolida os dados de todas as Varas da Infância e da Juventude referentes a crianças e adolescentes em condições de serem adotados e a pretendentes habilitados à adoção. O sistema objetiva reduzir a burocracia do processo, pois uma pessoa considerada apta à adoção em sua comarca ficará habilitada a adotar em qualquer outro lugar do país, mas não são muitos os pretendentes que têm condições de viajar e passar alguns dias em outro Estado para conhecer uma criança ou adolescente.
Cadastro da Adoção
5.426
crianças/adolescentes aptos à adoção29.440
pretendentes1.987
crianças adotadas em 5 anos
Entre os pretendentes, 22.243 não têm filhos biológicos, contra 7.197 que têm. "O que não deve acontecer, e infelizmente acontece, é a adoção para fazer um obra de caridade. A adoção é um instituto jurídico e legal que serve para dar uma família a uma criança, e não uma criança a uma família", explica Berlini.
Perfil exigido
Segundo dados do cadastro, 582 crianças aptas à adoção tem até seis anos, e mais de 4.700 têm de sete a 17 anos, por outro lado, a quantidade de pretendentes que aceita adotar crianças maiores de sete anos é mínima. "A cultura da adoção em nosso país ainda privilegia crianças mais novas, pois existe um entendimento de que as maiores apresentam mais problemas e terão mais dificuldades em adaptar-se na família adotiva", comenta Maria Inês Villalva.Crianças para adoção
1.777
raça branca1.024
raça negra2.575
raça parda2.349
meninas3.077
meninos
Segundo Berlini, no Estado de São Paulo, 93,6% dos pretendentes querem crianças de até cinco anos, por isso, a tendência é que o número de pretendentes e crianças aumente cada vez mais. "A lista de espera é exatamente proporcional à exigência do pretendente. Ele pode ficar sete, oito, dez anos, porque essas crianças não existem. Agora, se ele quiser uma criança de nove anos negra, não fica um dia na lista de espera", exemplifica.
Pretendentes
9.450
só aceitam crianças brancas23.855
não aceitam adotar irmãos9.613
somente aceitam meninas389
aceitam crianças acima de 10 anos26.258
são casais22.243
não têm filhos biológicos
Sobre o perfil dos pretendentes, "o que deve contar é a capacidade afetiva dos adotantes, independentemente do estado civil e da orientação sexual", explica Maria Inês. A lei não estabelece restrição, o que determina a habilitação é o parecer dos técnicos do Poder Judiciário (assistentes sociais e psicólogas). O processo de adaptação e as orientações são as mesmas para quaisquer perfis. Segundo dados do CNJ, 26.258 pretendentes são casais, 2.812 são do sexo feminino e 370 do gênero masculino.
Quanto à idade, a maioria se concentra na faixa etária entre 31 e 60 anos: 10.162 têm entre 31 e 40 anos, 12.433 entre 41 e 50 e 4.007 entre 51 e 60. Sobre a renda daqueles que estão na fila para adotarem uma criança ou adolescente, 1.813 ganham menos de um salário mínimo; 4.072 até dois salários mínimos; 11.825 até cinco salários e 11.162 ganham mais de cinco salários mínimos.
18 anos, e agora?
Os adolescentes podem ficar em abrigos até os 18 anos, passada essa idade eles são, literalmente, colocados para fora. Segundo o CNJ, entre os adolescentes que figuram na lista de espera, 618 tem 15 anos, 546 tem 16 anos e 503 tem 17 anos.Existem municípios que possuem repúblicas monitoradas oferecendo a esses jovens uma retaguarda até os 21 anos, mas isso ainda acontece em poucas cidades do país.
"A gente briga muito pela política pública em relação a essas crianças e adolescentes que nunca serão adotados, mas que precisam ser preparados para serem bons cidadãos. O Estado tem a obrigação legal e constitucional de dar a possibilidade de a criança crescer e ser educada no seio de uma outra família, mas se não acontece, precisamos de políticas públicas", afirma Antônio Carlos Berlini.
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