domingo, 1 de junho de 2014

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Operação militar no Haiti custa R$ 1,3 bi em 10 anos

 
A participação de tropas brasileiras na missão de paz do Haiti completa 10 anos neste domingo. A operação militar aumentou a importância do Brasil no cenário internacional e ajudou o Haiti em um período de inúmeras crises políticas e catástrofes naturais. Isso tudo a um custo aproximado de R$1,3 bilhão aos cofres nacionais.
Contudo, após uma década no terreno e alguns revezes - sendo o principal deles um terremoto de proporções catastróficas que deixou 300 mil mortos em 2010 - o Brasil e a comunidade internacional enfrentam no país uma fase de fadiga de esforços.
Esse desgaste não é causado por ações de insurgentes, como no início do processo, mas em grande parte por questões burocráticas, políticas e culturais relacionadas ao próprio Haiti, de acordo com analistas.
Ao mesmo tempo em que fornece apoio para a solução de uma crise política de grandes proporções - há cerca de dois anos o Haiti tenta sem sucesso eleger um novo Parlamento - e lida com uma epidemia de cólera, a ONU estuda maneiras de começar a se retirar do país em 2016.
Até o fim de 2013, a operação militar brasileira no país custou R$ 2,1 bilhões. Segundo o Ministério da Defesa, 35% desse valor foi reembolsado pela ONU. Ao todo 30 mil militares passaram pela missão e 22 morreram - a maioria durante o terremoto de 2010.
Mas apesar das dificuldades, autoridades e especialistas avaliam que a missão tem sido positiva tanto para o Brasil quanto para o Haiti.
Haiti
Em linhas gerais, o cenário de segurança no Haiti foi estabilizado. Confrontos significativos entre rebeldes e capacetes azuis não ocorrem há sete anos e as estatísticas dos crimes comuns começaram a baixar no ano passado.
A estabilidade possibilitou ao Haiti realizar duas eleições presidenciais - conturbadas, porém livres - e trabalhar na reestruturação de sua força policial e também do sistema judiciário. Além disso, a presença militar abriu caminho para que ONGs internacionais oferecessem socorro a populações antes isoladas pela atuação de forças rebeldes.
"Em 2004 não se entrava em bairros como Cite Soleil e Bel Air. A parte de segurança melhorou bastante, hoje você anda a pé em lugares em que só se entrava dentro de blindados", disse o embaixador brasileiro Igor Kipman, que acompanhou toda a missão no país como responsável pela divisão de Caribe no Itamaraty e também chefiando a embaixada brasileira no país por três anos.
Mas essa melhora não significa que o país esteja totalmente calmo. A crise política e a ausência do Estado em determinados setores vêm deflagrando desde setembro do ano passado uma série de manifestações populares que por vezes se tornam violentas. Em muitas delas, os participantes pedem a queda do atual presidente Michel Martelly.
Após sofrer muitas baixas no terremoto, a polícia já está sendo reestruturada, mas apenas em 2016 deve ter condições de assumir a segurança no país sem a ajuda de tropas da ONU.
Na parte econômica, a existência da missão de paz como um todo tem injetado bilhões de dólares no Haiti. Somente após o terremoto de 2010 quase US$ 10 bilhões foram prometidos por países doadores para reconstruir a nação caribenha. Críticos disseram porém que uma parte considerável desse dinheiro não foi investida diretamente no país, mas na manutenção das estruturas de milhares de ONGs internacionais que operam no território.
Contudo, segundo Kipman, apenas a presença de militares e civis da Minustah (missão de paz no Haiti) no país - que compram produtos, alimentos, pagam aluguel e consomem serviços e entretenimento - injetou na economia cerca de US$ 8 bilhões na última década.
Na área de infra-estrutura, as três unidades de engenharia militar da Minustah - uma delas brasileira - asfaltaram grande quantidades de ruas, construíram inúmeros poços artesianos, desobstruíram canais e lançaram uma série de pontes sobre rios. Batalhões brasileiros e internacionais também realizaram ações sociais sistemáticas, que incluíram atendimento médico e odontológico, distribuição de suprimentos e de água.
Frustrações
Segundo o embaixador Kipman, a comunidade internacional lida hoje com um problema de "fadiga" na missão no Haiti. Parte disso está relacionado a uma herança cultural haitiana que faria certos segmentos da sociedade tenderem a rechaçar ações internacionais no país. "Essa foi uma marca que ficou na cultura do país desde a escravatura", afirmou o embaixador.

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