Com as galerias lotadas, algumas pessoas se manifestando em apoio à petista, mas, a maioria protestando contra ela, foi necessário, em diversas oportunidades, o presidente da Câmara, Aliel Machado, chamar a atenção da platéia e até mesmo solicitar a intervenção da Guarda Municipal para que os trabalhos pudessem ter sequência, sem o barulho ruidoso dos manifestantes.
Todos aguardavam o pronunciamento de Ana Maria, na expectativa da revelação de algum detalhe novo, além do que ela já havia declarado à imprensa durante o Carnaval, dizendo que de nada se lembrava do que possa ter ocorrido depois que deixou o Cine Teatro Ópera (local da posse) e, no caminho, ingeriu medicamento e foi “apagando”.
A tortura da dúvida
Até mesmo o prefeito Marcelo Rangel, que prestigiou a sessão inaugural do período ordinário da Câmara, teve seu discurso interrompido por manifestações no momento em que, ao citar os nomes de todos os vereadores, pronunciou o de Ana Maria de Holleben.
Durante a “Explicação Parlamentar”, usaram da palavra os vereadores George Luiz de Oliveira, Romualdo Camargo, Antônio Laroca Neto, Aliel Machado, Ana Maria e Pascoal Adura. E foi Laroca quem primeiro falou sobre o caso da petista, dizendo que “a verdade dói muito, a mentira aniquila, mas, o pior de tudo é o que estamos vivendo agora, que é a tortura da dúvida”, para cobrar explicações por parte de Ana Maria, considerando que a verdade, é, consequentemente a elucidação do caso é fundamental para dar tranquilidade à Câmara no exercício de seu papel perante a sociedade, especialmente o de fiscalizar a aplicação do orçamento municipal.
Defendeu Laroca a apuração dos fatos pelo Legislativo, de forma correta e célere, “fazendo não aquilo que o povo muitas vezes quer, mas, o que tem que ser feito. Se tem a responsabilidade, a punição imediata, mas, nunca sem o direito de defesa”.
Ele sugeriu a Ana Maria que se prepare para convencer os demais vereadores, “para a verdade. Ela dói, mas, é melhor do que a aniquilação da mentira. E não nos deixe em dúvida, vereadora”, disse, dirigindo-se a Ana Maria de Holleben.
Prestação
Sob vaias e alguns aplausos, Ana Maria discursou na Tribuna por 15 minutos. E começou dizendo que, pela forma como o caso está sendo conduzido a te agora, “eu já fui julgada e condenada, sem o direito de defesa”, protestou, reclamando o seu direito de se defender.
Observando que pela primeira vez usava o espaço da tribuna para sua própria defesa, Ana passou a fazer uma prestação de contas de seus oito anos como vereadora, relacionando suas lutas, propostas e posicionamentos, afirmando ter uma história de vida marcada por lutas e favor da população. “Minha vida não começou em janeiro de 2013, ela tem uma grande história”, discursou a petista.
Disse a vereadora que está exercendo seu mandato por um direito constitucional, pois foi eleita para isso. “Estou de cabeça erguida, não cometi crime nenhum. Eu roubei? Eu tenho, ou vocês viram, durante os oito anos que estive na Câmara, durante os quatro anos em que fui secretária de Cultura, o meu nome envolvido em algum caso de corrupção?”, indagou, acrescentando: “em todos esses anos, também na APP sindicato, quando alguém ouviu falar que houve desvio, que participei de falcatruas? Nunca! Então, não me julguem sem saber o que aconteceu”, pronunciou.
O que aconteceu?Defendeu Ana Maria o seu “direito e dever” de contar o que aconteceu. E o que ela contou? Que vem vindo (disse que tem o testemunho de vários vereadores) de um processo difícil. Que, em 2011, a partir de julho, entrou em estado de depressão “por tristezas, decepções”. Contou que o médico e vereador Pascoal Adura tinha conhecimento de seu estado de saúde, tanto que lhe receitava remédios para depressão e para dormir.
Problemas sérios na família, disse ter passado a vereadora ao contar que seu estado se agravou, também por conta de decepções com amigos. E relatou ter iniciado, em julho do ano passado, um tratamento psiquiátrico, quando começou a “perder o controle”.
Aos poucos, Ana Maria foi citando mais nomes de vereadores que poderiam testemunhar sobre suas condições de saúde, como o do Professor Careca, que, segundo ela, esteve em sua casa. Falou que teve, durante o tratamento, o diagnóstico de depressão profunda, mas que, por questões familiares, não pode parar para apenas cuidar da saúde.
Outro nome citado foi o de Aliel Machado, que, no final do ano passado, teria sugerido que ela se afastasse da Câmara para descansar, porque sabia dos seus problemas. Ainda sobre Aliel, a vereadora do PT reclamou da divulgação, pela imprensa, do que disse o presidente da Câmara, que o dia 31 de dezembro, teria tomado uísque com ela, questionado como ela poderia estar bebendo se estava sendo medicada. “Tomei, sim, com os vereadores Paulo Cenoura e Aliel, na casa do Péricles (de Holleben Mello, deputado e seu primo). Tomei, como todo mundo toma. Tomava remédio, sim, e tinha plena consciência e sabia o que me foi indicado pela psiquiatra: ‘O dia em que você for em alguma festa, tome a metade da dose, porque a bebida intensifica o efeito do remédio’. Tomei, e vamos tomar algum dia, com vocês, mesmo”, falou, dirigindo-se à platéia, que se manifestava.
Questionou a vereadora se “isso é quebra de decoro parlamentar” o fato de ter tomado uísque na companhia de outros vereadores.
Valtão
Finalmente, Ana Maria de Holleben se reportou ao dia dos fatos, 1º de Janeiro. Disse que não estava bem naquele dia. Que não pode dormir em casa devido ao barulho de vizinhos.
No momento da posse, não estava bem, afirmou, chamando o testemunho do vereador Walter José de Souza, o “Valtão”, a quem pediu que deponha na CPI, formada nesta segunda-feira para investigar o caso. Teria sido Valtão a última pessoa que com ela conversou no teatro, quando da posse. “O vereador falou comigo e eu respondi: Não agüento mais ficara aqui. E o senhor é minha testemunha na CPI”, disse, apontado para Walter de Souza.
Seguindo seu relato, Ana voltou a contar que, na companhia do assessor Idalécio Valverde da Silva, antes de se dirigir à Câmara Municipal, para a eleição da Mesa Executiva, chegou em uma padaria. E disse que precisava dar uma volta, pois não estava se sentindo bem. Idalécio se propôs a levar para casa sua esposa e a mãe da vereadora e a chamar alguém para levá-la a dar a tal “volta”.
Então, seguiu em outro carro, agora conduzido por Reginaldo da Silva (primo de Idalécio). “Ele me deu mais um remédio, eu já tinha tomado o meu, e comecei a passar mal. Não lembro exatamente, a partir daquele momento, o que aconteceu. E esta é a verdade. A de vocês, que já julgaram e condenaram, pode ser outra”.
Küller
Provocada por alguém da platéia, Ana Maria de Holleben falou o nome do vereador Julio Kuller, que, em algum momento do processo, teve seu nome citado como um dos “mentores” do falso seqüestro. Garantiu a petista que não fala com o colega há mais de dois anos, e que, portanto, ele não lhe pediu o voto para a Presidência da Câmara. Até porque já tinha definido voto para o candidato Paulo Cenoura.
Repetindo não ter cometido nenhum crime, Ana Maria garantiu não ter falado, em momento algum, sobre seqüestro. E que jamais planejaria um auto-sequestro, deixando sua família desesperada. “Colocaram palavras na minha boca”, afirmou.
Ao final, Ana Maria de Holleben disse aguardar pela CPI, onde terá o direito de se defender. “Mas, eu quero uma CPI sem espetáculos. Chega de espetáculos. Uma CPI que averigúe os fatos, que tome as decisões, mas que não dê espetáculos. Que seus membros trabalhem com toda a seriedade. Chega de acusações vãs. Vou continuar de cabeça erguida, vou esclarecer os fatos”, prometeu.
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