PF investiga Cerveró por prejuízo de US$ 700 milhões em Angola
O caso passou a ser investigado após o depoimento de um informante secreto prestado no Rio de Janeiro em abril de 2014
19/01/2015 | 23:14 | Estadão Conteúdo
O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi apontado na Polícia Federal por suposto prejuízo proposital em um negócio de exploração de petróleo em Angola,
na África, que teria gerado um dispêndio de US$ 700 milhões. O caso
passou a ser investigado após depoimento prestado sob sigilo por um
funcionário de carreira da estatal, no Rio de Janeiro, que procurou os
policiais um mês após ser deflagrada a Operação Lava Jato, em março de 2014.
O informante citou o nome de Cerveró - preso na Operação Lava Jato - em um negócio de US$ 700 milhões, que contrariou pareceres internos, e teria gerado prejuízo proposital como forma de desviar recursos públicos. Funcionário de carreira com 30 anos de serviços prestados à Petrobras, o informante procurou os delegados para denunciar indícios de crimes e "má gestão proposital" na estatal. "Um dos projetos que teve como objetivo o prejuízo internacional da Petrobras foi o bloco de exploração em Angola", afirmou o informante em depoimento de quatro horas, realizado no dia 28 de abril de 2014, no Rio.
Num gesto sem precedentes na busca por documentos e ativos no exterior, a Justiça brasileira lança uma ofensiva na Suíça e envia ao país europeu uma delegação de oito procuradores e peritos do Ministério Público Federal (MPF) para buscar documentos e extratos bancários que possam reconstruir a relação entre a a Odebrecht e contas de ex-dirigentes da Petrobras bloqueadas na Suíça, caso investigado na operação Lava Jato. Nesta segunda-feira (19), o Ministério Público da Suíça
confirmou que garantiu acesso a documentos e extratos bancários sobre
suspeitas de pagamentos de propinas que podem confirmar essa relação.
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Conta ele que quando foi aberto leilão internacional para
compra dos direitos de exploração de blocos petrolíferos em Angola, a
estatal analisou o negócio. "Diversos pareceres de geólogos da Petrobras
foram redigidos analisando o potencial de exploração de cada um deles.
Estes pareces apontavam indícios de que a Petrobras não deveria sequer
praticar do leilão, pois não havia indícios de lucros ou rentabilidade
na exploração de tais áreas."
Com base nesses pareceres, a Petrobras não entrou no leilão. "Alguns anos depois, a Petrobras decidiu comprar 50% dos direitos de exploração deste poços arrematados no leilão pelo mesmo valor que a empresa inicial arrematou a totalidade".
A empresa vencedora teria pago US$ 500 milhões pelo negócio na época do leilão. O custo de 50% do direito aos blocos, no entanto, custou à Petrobras "exatamente a mesma quantia paga anos antes por 100% dos direitos" - US$ 500 milhões. "Existem indícios de que o dinheiro repassado à ganhadora do leilão foi uma forma de desvia-lo da Petrobras e sugere que se investigue se houve retorno deste capital ao Brasil ou a contas controladas pelo envolvidos, no exterior", registra a PF, em documento anexado em novembro aos autos da Lava Jato, conforme revelou o Estado.
Na época, reportagem mostrou que o informante havia apontado o envolvimento de Cerveró e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, em suposto desvio de propina na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Perfurações
Ao todo, o relatório de Informação Policial 18/2014 registra acusações do funcionário de carreira em seis supostas fraudes para desvios de recursos. Prestes a se aposentar, ele decidiu contar o que sabia, sem ter seu nome revelado. Delegados da Lava Jato mantém contato direto com o informante.
No negócio em Angola, que teria envolvido a Diretoria de Internacional sob o comando de Cerveró, ele relata que a irregularidade não foi só na compra.
O informante declarou que a Petrobras, depois da compra de 50% dos direitos de exploração, decidiu então "perfurar três poços (em Angola) com o objetivo de prospecção da capacidade produtiva do bloco recém-adquirido". "Cada um dos poços tem um custo de perfuração de aproximadamente US$ 80 milhões a US$ 120 milhões", revelou o funcionário.
Segundo o documento, os três poços foram perfurados e "mostraram-se secos". "Confirmando os pareceres técnicos dos geólogos da empresa que analisaram o mapeamento do subsolo do terreno e apontaram tecnicamente que era inviável explorar tais áreas, pois não havia petróleo disponível naquela região."
Os resultados teriam sido usados "nas decisões futuras da empresa em continuar explorando tais áreas, e assim, todo investimento foi descartado". "Desta forma, o prejuízo total deste projeto foi de cerca de US$ 700 milhões, sendo US$ 500 milhões para adquirir 50% dos direitos e outros US$ 200 milhões em perfuração de poço que já se sabia serem secos", acentua o documento.
O informante apontou ainda como responsável pelo negócio o ex-gerente Luis Carlos Moreira da Silva. Segundo ele, Nestor Cerveró criou o cargo de gerente executivo internacional de desenvolvimento de negócios "em tempo recorde". O nome do ex-gerente já foi citado também no caso Pasadena. Em julho, ele foi ouvido sobre o caso na CPI da Petrobras. "Durante a gestão de Moreira, à frente do cargo criado por Cerveró, alguns negócios teriam sido desenvolvidos contrariando diversos pareceres técnicos."
A Petrobras foi procurada para falar sobre o caso, mas ainda não se pronunciou.
Luis Carlos Moreira da Silva não foi localizado para comentar o caso. Em julho do ano passado, quando foi ouvido na CPI da Petrobras sobre o caso Pasadena, ele considerou o negócio legal.
A defesa de Nestor Cerveró nega o envolvimento dele em qualquer irregularidade.
Cerveró não pretende recorrer à delação premiada, diz advogado
Preso desde o desembarque no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro na última quarta-feira, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró não pretende recorrer à delação premiada. A prisão do ex-diretor ocorreu após ele retornar de viagem de Londres. Na avaliação da defesa do ex-diretor da área internacional da estatal, não há motivo para que ele faça um acordo de colaboração com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal responsáveis pela condução das investigações no âmbito da Operação Lava Jato.
"Não acredito que o Nestor possa fazer uma delação. Os fatos da Lava Jato são pós 2008 e o Nestor Cerveró saiu em março de 2008 da Petrobras. Quem estava na área internacional de 2008 até agora não era ele. Então, não vejo como o Nestor possa contribuir com relação a esse período. Quem deveria ser ouvido são os sucessores dele", afirmou Edson Ribeiro, advogado do ex-diretor, nesta segunda-feira (19).
Segundo o defensor, embora não tenha previsão de um acordo formal de delação, Cerveró tem contribuído com as investigações. Na semana passada, o ex-diretor prestou depoimento na sede da PF em Curitiba, onde se encontra preso atualmente. Na ocasião, os agentes não teriam questionado sobre a compra da refinaria de Pasadena, Texas (EUA), realizada em 2006 pela Petrobras.
O informante citou o nome de Cerveró - preso na Operação Lava Jato - em um negócio de US$ 700 milhões, que contrariou pareceres internos, e teria gerado prejuízo proposital como forma de desviar recursos públicos. Funcionário de carreira com 30 anos de serviços prestados à Petrobras, o informante procurou os delegados para denunciar indícios de crimes e "má gestão proposital" na estatal. "Um dos projetos que teve como objetivo o prejuízo internacional da Petrobras foi o bloco de exploração em Angola", afirmou o informante em depoimento de quatro horas, realizado no dia 28 de abril de 2014, no Rio.
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Preso na Lava Jato, presidente da UTC é autorizado a movimentar contas
Preso na Operação Lava Jato, o presidente da UTC, Ricardo Ribeiro Pessoa, conseguiu da Justiça Federal do Paraná autorização para poder movimentar contas bancárias bloqueadas desde o último mês de novembro. A decisão consta em dois ofícios assinados pela juíza federal substituta Gabriela Hardt, e expedidos nesta segunda-feira (19) aos bancos Bradesco e Citibank.Leia mais
Sérgio Mendes tem alta e volta para a carceragem da PF
O executivo da Mendes Junior Sérgio Cunha Mendes recebeu alta nesta segunda-feira (19) do Hospital Santa Cruz e voltou à carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba. Ele estava internado desde quarta-feira (14) depois de sentir dores abdominais. Cunha foi socorrido por uma ambulância do Samu e levado para o hospital para fazer exames médicos.Leia mais
Com base nesses pareceres, a Petrobras não entrou no leilão. "Alguns anos depois, a Petrobras decidiu comprar 50% dos direitos de exploração deste poços arrematados no leilão pelo mesmo valor que a empresa inicial arrematou a totalidade".
A empresa vencedora teria pago US$ 500 milhões pelo negócio na época do leilão. O custo de 50% do direito aos blocos, no entanto, custou à Petrobras "exatamente a mesma quantia paga anos antes por 100% dos direitos" - US$ 500 milhões. "Existem indícios de que o dinheiro repassado à ganhadora do leilão foi uma forma de desvia-lo da Petrobras e sugere que se investigue se houve retorno deste capital ao Brasil ou a contas controladas pelo envolvidos, no exterior", registra a PF, em documento anexado em novembro aos autos da Lava Jato, conforme revelou o Estado.
Na época, reportagem mostrou que o informante havia apontado o envolvimento de Cerveró e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, em suposto desvio de propina na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Perfurações
Ao todo, o relatório de Informação Policial 18/2014 registra acusações do funcionário de carreira em seis supostas fraudes para desvios de recursos. Prestes a se aposentar, ele decidiu contar o que sabia, sem ter seu nome revelado. Delegados da Lava Jato mantém contato direto com o informante.
No negócio em Angola, que teria envolvido a Diretoria de Internacional sob o comando de Cerveró, ele relata que a irregularidade não foi só na compra.
O informante declarou que a Petrobras, depois da compra de 50% dos direitos de exploração, decidiu então "perfurar três poços (em Angola) com o objetivo de prospecção da capacidade produtiva do bloco recém-adquirido". "Cada um dos poços tem um custo de perfuração de aproximadamente US$ 80 milhões a US$ 120 milhões", revelou o funcionário.
Segundo o documento, os três poços foram perfurados e "mostraram-se secos". "Confirmando os pareceres técnicos dos geólogos da empresa que analisaram o mapeamento do subsolo do terreno e apontaram tecnicamente que era inviável explorar tais áreas, pois não havia petróleo disponível naquela região."
Os resultados teriam sido usados "nas decisões futuras da empresa em continuar explorando tais áreas, e assim, todo investimento foi descartado". "Desta forma, o prejuízo total deste projeto foi de cerca de US$ 700 milhões, sendo US$ 500 milhões para adquirir 50% dos direitos e outros US$ 200 milhões em perfuração de poço que já se sabia serem secos", acentua o documento.
O informante apontou ainda como responsável pelo negócio o ex-gerente Luis Carlos Moreira da Silva. Segundo ele, Nestor Cerveró criou o cargo de gerente executivo internacional de desenvolvimento de negócios "em tempo recorde". O nome do ex-gerente já foi citado também no caso Pasadena. Em julho, ele foi ouvido sobre o caso na CPI da Petrobras. "Durante a gestão de Moreira, à frente do cargo criado por Cerveró, alguns negócios teriam sido desenvolvidos contrariando diversos pareceres técnicos."
A Petrobras foi procurada para falar sobre o caso, mas ainda não se pronunciou.
Luis Carlos Moreira da Silva não foi localizado para comentar o caso. Em julho do ano passado, quando foi ouvido na CPI da Petrobras sobre o caso Pasadena, ele considerou o negócio legal.
A defesa de Nestor Cerveró nega o envolvimento dele em qualquer irregularidade.
Cerveró não pretende recorrer à delação premiada, diz advogado
Preso desde o desembarque no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro na última quarta-feira, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró não pretende recorrer à delação premiada. A prisão do ex-diretor ocorreu após ele retornar de viagem de Londres. Na avaliação da defesa do ex-diretor da área internacional da estatal, não há motivo para que ele faça um acordo de colaboração com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal responsáveis pela condução das investigações no âmbito da Operação Lava Jato.
"Não acredito que o Nestor possa fazer uma delação. Os fatos da Lava Jato são pós 2008 e o Nestor Cerveró saiu em março de 2008 da Petrobras. Quem estava na área internacional de 2008 até agora não era ele. Então, não vejo como o Nestor possa contribuir com relação a esse período. Quem deveria ser ouvido são os sucessores dele", afirmou Edson Ribeiro, advogado do ex-diretor, nesta segunda-feira (19).
Segundo o defensor, embora não tenha previsão de um acordo formal de delação, Cerveró tem contribuído com as investigações. Na semana passada, o ex-diretor prestou depoimento na sede da PF em Curitiba, onde se encontra preso atualmente. Na ocasião, os agentes não teriam questionado sobre a compra da refinaria de Pasadena, Texas (EUA), realizada em 2006 pela Petrobras.
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