O homem que, em 39 anos de vida pública, só teve um carro
Morto no último dia 16, Milton Luiz Pereira foi prefeito de Campo Mourão, juiz, ministro do STJ e exemplo para as pessoas que conviveram com ele
O juiz Milton Luiz Pereira foi advogado, prefeito de Campo Mourão e ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Nessas funções, realizou obras e julgamentos importantes. Mas o maior legado que deixou ao Paraná e ao Brasil – segundo relatos de várias pessoas que o conheceram, em artigos e cartas publicadas pela Gazeta do Povo nos últimos dias – foi sua conduta. Um homem público íntegro, humilde e sempre pronto para aprender.
O dr. Milton, como era conhecido entre os servidores da Justiça Federal, morreu em Curitiba aos 79 anos, na madrugada de 16 de fevereiro, poucas horas após o falecimento da esposa, Rizoleta Mary Pereira. Os dois foram vítimas de câncer. Se é possível dizer que há consolo no acontecimento é que ele serviu para reavivar os grandes feitos do juiz, que se aposentou como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2002.
O historiador Jair Elias dos Santos Júnior, amigo de Pereira, relembra uma série de fatos e frases que ajudam a entender a admiração que o juiz despertava entre tantas pessoas. “Aprendi todos os dias, todas as horas. Quando mais tarde, ao reler os livros de minha vida, quiser tirar a maior lição de todas, saberei que o mais importante é ser humilde”, afirmou Pereira ao sair do STJ.
Campo Mourão
Pereira nasceu em 9 de dezembro de 1932, em Itatinga, interior de São Paulo. Mudou-se adolescente para Curitiba. Na capital, iniciou amizade com José Richa, então estudante de Odontologia. Como advogado, Pereira foi atuar em Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), em 1959, e rapidamente foi reconhecido por seu trabalho.
Em 1963 aceitou disputar a eleição para prefeito da cidade pelo Partido Democrata Cristão (PDC), de Ney Braga. O historiador Santos Júnior, que é de Campo Mourão, conta que a eleição parecia perdida. Pereira tinha poucos recursos e concorria com o empresário Ivo Trombini, que além de dinheiro tinha o apoio do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Então senador, JK fez um grande comício no município. O troco de Pereira foi visitar cada eleitor em casa. Elegeu-se.
Como prefeito, promoveu uma grande inovação para a época: criou o Conselho Comunitário, que contava com a participação de uma pessoa de cada bairro da cidade. O trabalho foi produtivo: as receitas financeiras do município cresceram e a gestão de Pereira entregou várias obras, como bibliotecas, rede de água e esgoto, estradas, a rodoviária. Graças ao Conselho e às obras, Campo Mourão foi escolhido à época como “Município Modelo do Paraná”.
Presente do povo
Em 1967, Pereira renunciou ao cargo de prefeito para ser nomeado juiz federal, atingindo o objetivo de chegar à magistratura. O convite surgiu de contatos com políticos. Eles já haviam oferecido outros cargos – como secretário estadual – e sugerido a candidatura à Assembleia ou à Câmara Federal. Mas Pereira não se interessou.
Foi nessa época que a população de Campo Mourão fez a célebre arrecadação de dinheiro e comprou um Fusca de presente para o prefeito, que não tinha automóvel. Santos Júnior conta que se esqueceram de colocar gasolina. Mas isso não foi problema. A população empurrou o Fusca – com Pereira, a mulher e os filhos – até a casa deles. “Além do carro, o ex-prefeito ganhou um jogo de canetas, um relógio de ouro e até um frango, presente de um lavrador, que andou 20 quilômetros, a pé”, relata o historiador.
O Fusca azul se tornou um “amuleto” usado por Pereira até o fim da vida. Foi seu único carro. “Toda vez que entro nele, sinto-me em Campo Mourão. Naquele momento, senti que o povo sabe ser justo”, dizia o juiz.
Pereira permaneceu como juiz federal e, em 1988, assumiu a presidência do Tribunal Federal de Recursos (TFR), fato noticiado com destaque na Gazeta do Povo de 20 de novembro. O órgão já estava em vias de ser extinto, por força da nova Constituição. O Judiciário foi remodelado e surgiram os tribunais regionais federais. Pela sua experiência, Pereira assumiu o TRF da 1.ª Região, em São Paulo. Em 1992 foi nomeado ministro do STJ, onde ficou por dez anos.
Aposentado, teve mais tempo para se dedicar às novenas na Igreja São Judas Tadeu, do qual era devoto, e à família. Com Rizoleta Mary teve cinco filhos e com ela viveu até o fim.
O dr. Milton, como era conhecido entre os servidores da Justiça Federal, morreu em Curitiba aos 79 anos, na madrugada de 16 de fevereiro, poucas horas após o falecimento da esposa, Rizoleta Mary Pereira. Os dois foram vítimas de câncer. Se é possível dizer que há consolo no acontecimento é que ele serviu para reavivar os grandes feitos do juiz, que se aposentou como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2002.
O historiador Jair Elias dos Santos Júnior, amigo de Pereira, relembra uma série de fatos e frases que ajudam a entender a admiração que o juiz despertava entre tantas pessoas. “Aprendi todos os dias, todas as horas. Quando mais tarde, ao reler os livros de minha vida, quiser tirar a maior lição de todas, saberei que o mais importante é ser humilde”, afirmou Pereira ao sair do STJ.
Campo Mourão
Pereira nasceu em 9 de dezembro de 1932, em Itatinga, interior de São Paulo. Mudou-se adolescente para Curitiba. Na capital, iniciou amizade com José Richa, então estudante de Odontologia. Como advogado, Pereira foi atuar em Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), em 1959, e rapidamente foi reconhecido por seu trabalho.
Em 1963 aceitou disputar a eleição para prefeito da cidade pelo Partido Democrata Cristão (PDC), de Ney Braga. O historiador Santos Júnior, que é de Campo Mourão, conta que a eleição parecia perdida. Pereira tinha poucos recursos e concorria com o empresário Ivo Trombini, que além de dinheiro tinha o apoio do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Então senador, JK fez um grande comício no município. O troco de Pereira foi visitar cada eleitor em casa. Elegeu-se.
Como prefeito, promoveu uma grande inovação para a época: criou o Conselho Comunitário, que contava com a participação de uma pessoa de cada bairro da cidade. O trabalho foi produtivo: as receitas financeiras do município cresceram e a gestão de Pereira entregou várias obras, como bibliotecas, rede de água e esgoto, estradas, a rodoviária. Graças ao Conselho e às obras, Campo Mourão foi escolhido à época como “Município Modelo do Paraná”.
Presente do povo
Em 1967, Pereira renunciou ao cargo de prefeito para ser nomeado juiz federal, atingindo o objetivo de chegar à magistratura. O convite surgiu de contatos com políticos. Eles já haviam oferecido outros cargos – como secretário estadual – e sugerido a candidatura à Assembleia ou à Câmara Federal. Mas Pereira não se interessou.
Foi nessa época que a população de Campo Mourão fez a célebre arrecadação de dinheiro e comprou um Fusca de presente para o prefeito, que não tinha automóvel. Santos Júnior conta que se esqueceram de colocar gasolina. Mas isso não foi problema. A população empurrou o Fusca – com Pereira, a mulher e os filhos – até a casa deles. “Além do carro, o ex-prefeito ganhou um jogo de canetas, um relógio de ouro e até um frango, presente de um lavrador, que andou 20 quilômetros, a pé”, relata o historiador.
O Fusca azul se tornou um “amuleto” usado por Pereira até o fim da vida. Foi seu único carro. “Toda vez que entro nele, sinto-me em Campo Mourão. Naquele momento, senti que o povo sabe ser justo”, dizia o juiz.
Pereira permaneceu como juiz federal e, em 1988, assumiu a presidência do Tribunal Federal de Recursos (TFR), fato noticiado com destaque na Gazeta do Povo de 20 de novembro. O órgão já estava em vias de ser extinto, por força da nova Constituição. O Judiciário foi remodelado e surgiram os tribunais regionais federais. Pela sua experiência, Pereira assumiu o TRF da 1.ª Região, em São Paulo. Em 1992 foi nomeado ministro do STJ, onde ficou por dez anos.
Aposentado, teve mais tempo para se dedicar às novenas na Igreja São Judas Tadeu, do qual era devoto, e à família. Com Rizoleta Mary teve cinco filhos e com ela viveu até o fim.
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