Vida circense moderna: tecnologia em favor da arte e dos artistas
Publicado em: 28/07/2013 - 00:00 | Atualizado em: 25/07/2013 - 20:16
Marco Fávero |
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Bruno Carvalho Farias já é a quinta geração da família circense: “O circo é minha vida, quero manter a tradição” |
Trailers com três quartos, ar condicionado e toda a estrutura de uma residência. Assim vivem hoje as famílias circenses. Clóvis vive com a esposa e quatro filhos em um trailer de 12 metros quadrados. “Aqui temos todo o conforto, hoje as coisas mudaram, não há sofrimento na vida das famílias que não têm endereço fixo, mas conseguimos acompanhar a evolução dos tempos”, destaca. Ele conta que, nas últimas férias, a família passou 20 dias nas praias de Santa Catarina. E mesmo em férias, assistiram três espetáculos de circo no litoral. “Mas a partir de agora vamos começar a passar as férias em nossa casa, em Boa Esperança, nossa terra natal”, compara.
Clóvis caracteriza a vida circense como “a melhor vida do mundo”. “Foi-se a época difícil, em que os artistas moravam em barracas montadas com lona ou que dormiam no coreto das igrejas, hoje temos tecnologia e estruturas acessíveis”. O palco é uma carreta. “Hoje tudo é muito prático. O circo evoluiu tanto quanto a informática. Antes o palco era levantado com mastros, demorava mais de cinco dias para montar, tinha que bater molas na marreta, e hoje temos uma máquina só para isso, o que agiliza muito”, explica. Clóvis conta que apesar da evolução dos tempos, a simplicidade ainda é marca do circo que mais agrada o público. “O púbico quer ver coisas bonitas, organizadas, mas o circo luxuoso é para as grandes capitais”, destaca.
E além de vir de uma família de três gerações de artistas de circo, Clóvis ainda conheceu a esposa na saída de um espetáculo da família. “Ela deu um tropeção, olhou para trás e sorriu, daí eu vi que era para ser minha esposa”, lembra. Com uma semana de namoro, Clóvis diz que “roubou” a moça. “E ela seguiu comigo no circo e logo formamos a nossa família, e meu sonho é que meus filhos mantenham a tradição, pois o circo nunca pode acabar”.
As aventuras de um jovem artista
O jovem Bruno Carvalho Farias, de 18 anos, conta que desde pequeno tomou gosto pela arte circense. Ele começou aos 10 anos, fazendo palhaçadas. Depois, passou a andar de bicicleta no globo da morte. E agora, junto com mais um motoqueiro, forma a atração principal do circo, O Globo da Morte, que encerra o espetáculo. “A emoção é maior quando tem mais público”, garante. O segredo da apresentação, ele revela: “É olhar nos olhos do parceiro”, revela. Livrar as tonturas proporcionadas pelo Globo da Morte foram o grande desafio. “Já estou há um ano com a moto, é mais fácil porque é só acelerar, a bicicleta era mais difícil tinha que fazer muita força”, conta.
Quando jovem, ele lembra que estudava sempre em escolas diferentes. “Assim que fazia amigos acabava indo embora, isso era ruim”. Porém, ao mesmo tempo ele garante: “O circo é a minha vida, e se depender de mim não saio, quero manter a tradição do meu tataravô, meu bisavô, meu avô e meu pai, porque somos muito felizes no picadeiro”, compara. Não ter rotina é um dos encantos da vida circense, para o jovem. “A única coisa que pode atrapalhar o nosso espetáculo é a chuva”, conta.
Circo em poesias
Além das apresentações tradicionais do circo, O Globo tem declamações de poesias entre as atrações principais. “As crianças fazem isso e gostam muito, então a arte se mistura e o resultado é agradável ao público”. Clóvis relata que, há cerca de 10 anos, as atrações maiores dos circos eram as ‘touradas’. “Cansamos de puxar boi com caminhões a gás para garantir o espetáculo, já levei muitas chifradas, mas o público gostava, mas isso com o passar dos tempos deixou de ser a grande atração do circo”, conta.
Por uma vida de aventuras
Kika Tatsch, 45 anos, é natural de Itapejara do Oeste e recentemente morava em Curitiba. Ela largou tudo para acompanhar a irmã e os parentes na estrada. “Tudo é bom aqui, a alegria do circo é contagiante, é só aventura, não há estresse, não temos tempo para ficar doente ou triste, é apaixonante, é uma magia que contagia”. Ela é auxiliar de produção, ajuda na lanchonete do circo e também na bilheteria. “Aqui em Ponta Grossa, o que mais curti foi a geada, muito linda”, completa.
Apresentações circenses começaram no século VI
Dos chineses aos gregos, dos egípcios aos indianos, quase todas as civilizações antigas já praticavam algum tipo de arte circense há pelo menos quatro mil anos- mas o circo como o conhecemos hoje só começou a tomar forma durante o Império Romano. O primeiro a se tornar famoso foi o Circus Maximus, que teria sido inaugurado no século VI a.C., com capacidade para 150 mil pessoas. A atração principal eram as corridas de carruagens, mas, com o tempo, foram acrescentadas as lutas de gladiadores, as apresentações de animais selvagens e de pessoas com habilidades incomuns, como engolidores de fogo. Destruído por um grande incêndio, esse anfiteatro foi substituído, em 40 a.C., pelo Coliseu, cujas ruínas até hoje compõem o cartão postal número um de Roma. A Roma por sua vez, tem papel muito importante na história do circo.
Com o fim do império dos Césares e o início da era medieval, artistas populares passaram a improvisar suas apresentações em praças públicas, feiras e entradas de igrejas. Nasciam assim as famílias de saltimbancos, que viajavam de cidade em cidade para apresentar seus números cômicos, de pirofagia, malabarismo, dança e teatro.
Tudo isso, porém, não passa de uma pré-história das artes circenses, porque foi só na Inglaterra do século XVIII que surgiu o circo moderno, com seu picadeiro circular e a reunião das atrações que compõem o espetáculo ainda hoje. Cavaleiro de 1 001 habilidades, o ex-militar inglês Philip Astley inaugurou, em 1768, em Londres, o Royal Amphitheatre of Arts (Anfiteatro Real das Artes), para exibições eqüestres. Para quebrar a seriedade das apresentações, alternou números com palhaços e todo tipo de acrobata e malabarista.
O sucesso foi tamanho que, 50 anos depois, o circo inglês era imitado não só no resto do continente europeu, mas atravessara o Atlântico e se espalhara pelos quatro cantos do planeta. (Das Assessorias)
O circo chega ao Brasil no século XIX
A história do circo no Brasil começa no século XIX, com famílias e companhias vindas da Europa, onde agruparam-se em guetos e manifestavam sentimentos diversos através de interpretações teatrais onde não demonstravam apenas interesses individuais e sim despertavam consciência mútua.
No Brasil, mesmo antes do Cirque Du Soleil, já havia os ciganos que vieram da Europa, onde eram perseguidos. Sempre houve ligação dos ciganos com o circo. Entre suas especialidades incluíam-se a domadores de ursos, o ilusionismo e as exibições com cavalos. Eles viajavam de cidade em cidade, e adaptavam seus espetáculos ao gosto da população local. Números que não faziam sucesso na cidade eram tirados do programa.
O novo circo é um movimento recente que adiciona às técnicas de circo tradicionais a influência de outras linguagens artísticas como a dança e o teatro, levando em conta que a música sempre fez parte da tradição circense.
Atualmente é proibido o uso de animais em algumas cidades, inclusive em Ponta Grossa, mas na maioria dos municípios brasileiros ainda é permitida sua exibição, tendo em vista que não há uma legislação federal que regule a matéria. Alguns empresários circenses, artistas, produtores culturais e estudiosos lutam para que seja aprovada uma legislação federal que regulamente o uso de animais em circos. (Das Assessorias)
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