CNJ aponta indício de nepotismo e outros problemas no TJ do Paraná
Documento do Conselho Nacional de Justiça indica que a Justiça estadual dá licenças em excesso a funcionários e tem elevado número de comissionados, dentre outras questões
Publicado em 18/07/2014 | Katna Baran O documento, assinado pelo corregedor do CNJ, Rui Falcão, indica que o TJ avançou na solução de irregularidades administrativas. Mas seguem sem solução ilegalidades na concessão de férias e elevado número de cargos comissionados, que não exigem concurso para serem ocupados.
Sem solução
Veja os problemas encontrados pelo CNJ no TJ-PR que ainda não foram solucionados:Administrativos
• Nepotismo direto e cruzado entre os funcionários do TJ.
• Inexistência da declaração de bens e renda, entre 2010 e 2012, de 105 magistrados e servidores.
• Ilegalidade na concessão de férias. Há casos de servidores que não gozavam férias há mais de três anos.
• Períodos muito extensos de licenças de funcionários por motivos de doença e paternidade, entre outros.
• Cargos comissionados em excesso. Em 2013, 89% dos servidores do TJ não tinham vínculo com a administração, o que contraria a resolução do CNJ que determina que pelo menos 50% dos comissionados devem ser servidores de carreira.
Precatórios
• Falta de prestação de informações anuais ao CNJ sobre o pagamento dos precatórios e inexistência de dados suficientes aos credores e entidades devedoras no site do TJ. O tribunal também omite os pagadores em atraso do Cadastro de Entidades Devedoras Inadimplentes (Cedin).
• Descumprimento da determinação do CNJ para que a Central de Precatórios do TJ seja administrada por um magistrado. O conselho também pede a elaboração de um planejamento estratégico para a unidade.
• Falta de controle de todos os depósitos para pagamento de precatórios nos municípios paranaenses.
• Não atendimento à recomendação do CNJ para revisar os precatórios envolvendo as prefeituras de Curitiba e Maringá.
Unidades judiciais
• Ações insuficientes para melhorar a Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Curitiba. As Varas de Família, Infância e Juventude, mesmo estando em melhores condições, também precisariam de um “choque de gestão”.
• Existência de massas falidas abertas desde a década de 1980, arrendamento de bens das empresas falidas e falta de revisão das administrações de massas falidas.
• Disparidade do número de funcionários nas Varas Criminais da Grande Curitiba.
87% dos cargos em comissão do Tribunal de Justiça do Paraná são ocupados por servidores sem vínculo com a administração. O CNJ estabelece que 50% dos comissionados têm de ser servidores da carreira judiciária.
105 magistrados e servidores do Tribunal de Justiça do Paraná não apresentaram declaração de bens e renda entre 2010 e 2012. Além disso, não houve qualquer punição a esses funcionários por parte do TJ.
Parentes
Segundo o relatório do CNJ, na análise de nomes de famílias de magistrados e de servidores que exercem cargo em comissão, foram constatados indícios de nepotismo direto e cruzado no tribunal paranaense (quando dois servidores contratam parentes um do outro). Porém, o documento não apresenta mais detalhes sobre esses indícios, como os nomes suspeitos. Em resposta constante do levantamento do CNJ, o departamento administrativo do TJ informou apenas que não há irregularidades.
O órgão de controle do Judiciário também constatou ilegalidades na concessão de férias para servidores do TJ. Segundo o relatório, foram encontrados casos de servidores que não gozavam do direito de descanso por um período superior a três anos. O conselho citou ainda que há um grande número de licenças especiais – por motivos de doença e paternidade, por exemplo – concedidas a funcionários da corte sem justificativas.
O número de cargos comissionados no Tribunal também foi alvo de críticas do CNJ. Conforme o relatório, 87% dos cargos em comissão do TJ são ocupados por servidores sem vínculo com a administração. Tal proporção está em desacordo com o limite estipulado pela Resolução 88/2009, do CNJ, que dispõe que 50% dos comissionados devem ser servidores da carreira judiciária.
O relatório também apresenta um monitoramento da correição anterior realizada no TJ, em 2009. Segundo o CNJ, o tribunal paranaense cumpriu 94% das 54 determinações encaminhadas pelo órgão à época. Porém, a corte estadual não conseguiu comprovar, por exemplo, que não tem nepotismo em seu quadro de funcionários. O tema é alvo de um pedido de providência, conforme aponta o levantamento do CNJ.
Outro lado
Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria do TJ não respondeu até o fechamento desta edição o que tem feito para corrigir os problemas. O conselho também não soube informar se a corte paranaense já enviou novos relatórios ao órgão de controle.
Administração de precatório e falência tem de melhorar
A correição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) também aponta problemas nas unidades judiciais do estado e na administração de precatórios pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Conforme determina o relatório, o TJ tem 60 dias, contados a partir de 5 de maio, para apresentar uma descrição de providências tomadas nas unidades, e 30 dias para corrigir irregularidades sobre a gestão dos precatórios (dívidas reconhecidas pela Justiça).
O relatório do CNJ informa ainda que o TJ não presta informações anuais sobre o pagamento dos precatórios, conforme determina a lei, e não disponibiliza dados suficientes aos credores e entidades devedoras na internet. O tribunal também omite os pagadores em atraso do Cadastro de Entidades Devedoras Inadimplentes (Cedin).
Varas judiciais
Algumas varas judiciais foram citadas como “problemáticas” no relatório do CNJ: a Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher que, segundo o levantamento, não dispõe de ferramentas para acompanhar casos relacionados à aplicação da Lei Maria da Penha; e as Varas de Família, Infância e Juventude que, conforme o CNJ, precisariam de um “choque de gestão”.
Nas Varas de Falência e Recuperação Judicial, o CNJ encontrou processos de liquidação de massas falidas abertos desde a década de 1980. O conselho recomenda a revisão de suas administrações e que seja evitado o arrendamento de bens da empresa falida. O CNJ apresenta ainda um panorama das outras unidades judiciais e determina, por exemplo, a redistribuição dos funcionários em atuação nas Varas Criminais da Grande Curitiba.
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